Houve uma vez. Uma única vez. Estava atravessando uma rua, olhei para lado algum, andei destemida, cabeça cheia de ideias, cheia daquela sensação de estar comprometida com algo de natureza maior. Uma vez e nunca mais. O carro passou e levou com ele minhas ideias todas, minha natureza quase supra-humana. O susto me fez abrir os olhos somente quando já estava no chão. O motorista do carro, um homem alto e magricela, disse que eu olhei dentro dos olhos dele quando rolei pelo capô e fui parar no asfalto. Eu não sei nada disso. A única coisa que sei de fato é que ficaram no asfalto aquelas ideias de natureza maior. Não é possível que elas existam de verdade. Não há outra natureza. Toda vez que pensei nalgum outro universo (de ideias, de trabalhos, de projetos) fui levada ao chão. Aquele momento pareceu-me muitíssimo exemplar. A natureza que julgava maior é, na verdade, somente a natureza do silêncio. E talvez o silêncio pareça mesmo ser algo de outra natureza porque a natureza humana se ocupa muito com barulhar. O tempo todo, as pessoas falam e falam demais. As pessoas têm verdades a dizer, as pessoas têm mentiras a apontar. Todo o tempo. Minha natureza anda em silêncio.
quarta-feira, maio 20, 2009
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2 comentários:
Som. Silêncio.
Uma presença implica uma ausência.
Presença, do som ou do silêncio.
Onde está o silêncio natural?
No mar? nas matas? nos ventos que cortam os desertos? O silêncio natural está no espírito Bianca, na estátua do Buda esculpida em pedra, no passarinho que morreu em pleno voo, na pena da ave que desprendeu-se do corpo ao toque de uma brisa leve. Talvez os surdos não conheçam o silêncio...eles desconhecem o som e o som é pai do silêncio. Somente o som explica o silêncio, somente o som é capaz de fazer-se silêncio.
"Que só eu que podia
dentro da tua orelha fria
dizer segredos de liquidificador
Você sonhava acordada
um jeito de não sentir dor
prendia o choro e aguava o bom do amor"
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