segunda-feira, março 23, 2009

Passo

Um passo adiante e estaria dentro da sala. Recuou e decidiu tomar um café. Ele estava esperando por horas a idéia lhe aparecer. Tantas e tantas vezes havia acontecido assim. Entrava na sala, sentava-se diante da tela do computador e começava a escrever. Colocou o pó na cafeteira italiana. Esperava a água borbulhar e tomar para si o aroma e o gosto do pó. Já tinha lido o jornal, já tinha visto a notícia da tv. Estava sem paciência. Precisava daquele momento solitário diante do computador. Precisava escrever. Precisava sentir-se vivo. Que lhe restava da vida senão aquilo? Nenhuma idéia. Nada. Uma preguiça tomou conta dos dedos, da cabeça, dos ombros. Estava mesmo tão pouco vivo. Apagou o fogo. Abriu a geladeira, pegou a cerveja. Mais um dia sem almoço, sem fome. Abriu a garrafinha. Sentou-se. Nada que pudesse fazer. Nada em que quisesse pensar. Ultimamente não conseguia sequer esperar a cerveja gelar o suficiente. Desta vez fora prevenido. De um dia a outro gelando. Saboreou. Segurou firme a cabeça apoiando os cotovelos sobre a mesa. Não tinha ali dentro mais nada que pudesse escrever. Não havia mais nada que pudesse sentir. Nada para lembrar. Um borrão preto na memória. Uma fumaça cinza nos sentidos. Coração vazio, mãos vazias. Nem o gosto estranho da dor. Nada. Sozinho e preso o tempo todo dentro de si.

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