O chão tremia sob seus pés. Não o tempo todo. Algumas vezes. Não tinha nenhuma regra, não era de modo previsível nem sistemático. Acontecia assim. Estava vivendo a vida que lhe cabia, fazia tudo para que ela fosse a mais normal quanto possível. Então, sem aviso prévio, sentia os tremores vindos do centro da terra. Era como se debaixo da crosta e das camadas terrestres algo desse errado e tudo ficasse em movimento. Isso durava alguns segundos. Nunca chegava a minuto. A primeira vez que se lembra de ter acontecido, ainda pequeno, estava na rua com a mãe. Certamente havia tido outras vezes, não sabe. Imagina que sim, afinal a mãe, ali ao seu lado, estava preparada para segurar firme em suas mãos, calmamente, para não deixar que se apavorasse na frente de todo mundo. Uma senhora que passava pela calçada perguntou o que o garoto tinha. A mãe explicou. Senhora rezou um padre-nosso. Disse que o diabo se mexia sob os pés da criança. Ele esmagava o infeliz. A mãe não deu atenção. Levou-o embora.
O apelido de sismólogo veio na escola. As crianças esperavam ansiosas, podia acontecer a qualquer momento. Às vezes levava semanas, às vezes era mais freqüente. Alguns se deitavam no chão, outros seguravam em sua cabeça. Ninguém sentia nada. Demorou a conseguir controlar o pavor e disfarçar os tremores sob os pés. Mas, mesmo assim, apelido acompanhou-o por anos. Sismólogo.
Em sua cabeça, compunha a história de outro jeito.
Via-se num futuro não muito distante, andando pelas ruas de uma grande cidade. De repente, o tremor acontecia. Abaixava-se no chão, colocava a palma das mãos sobre a terra e sentiria novamente algo mexer-se. Dirigia-se, então, a um prédio muito alto, salas amplas e brancas, falaria com o chefe daquele pessoal todo e relataria o que havia sentido. O homem, com sérias feições, ouviria atentamente. Dar-lhe-ia crédito, afinal, o garoto estava prevendo a tragédia, há anos agendada para a ocasião.
Não conseguiu nunca terminar a história. Ainda sente o tremor. Fricciona as mãos e controla-se. Silencia os pensamentos. Lembra-se de quando era garoto: aguardava que, nalgum momento, certamente no momento exato, soubesse exatamente o que fazer.
O apelido de sismólogo veio na escola. As crianças esperavam ansiosas, podia acontecer a qualquer momento. Às vezes levava semanas, às vezes era mais freqüente. Alguns se deitavam no chão, outros seguravam em sua cabeça. Ninguém sentia nada. Demorou a conseguir controlar o pavor e disfarçar os tremores sob os pés. Mas, mesmo assim, apelido acompanhou-o por anos. Sismólogo.
Em sua cabeça, compunha a história de outro jeito.
Via-se num futuro não muito distante, andando pelas ruas de uma grande cidade. De repente, o tremor acontecia. Abaixava-se no chão, colocava a palma das mãos sobre a terra e sentiria novamente algo mexer-se. Dirigia-se, então, a um prédio muito alto, salas amplas e brancas, falaria com o chefe daquele pessoal todo e relataria o que havia sentido. O homem, com sérias feições, ouviria atentamente. Dar-lhe-ia crédito, afinal, o garoto estava prevendo a tragédia, há anos agendada para a ocasião.
Não conseguiu nunca terminar a história. Ainda sente o tremor. Fricciona as mãos e controla-se. Silencia os pensamentos. Lembra-se de quando era garoto: aguardava que, nalgum momento, certamente no momento exato, soubesse exatamente o que fazer.
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