quinta-feira, julho 02, 2009

As cidades

Era a terceira vez que voltava. Cada uma das vezes, numa casa diferente. Saíra da cidade ora para estudar, ora para trabalhar. Uma única vez para fugir. Agora estava de volta. Olhava para a rua do lado de fora. Por volta das quatro horas, o sol já estava enfraquecendo e as nuvens pesadas sinalizavam o início de um inverno rigoroso. Deteve-se ali, longos minutos, tentando encontrar afinidade com aquelas ruas. Sentia como se nada ali fosse parte de si. A cidade não lhe pertencia mais como outrora. Nada lhe dizia mais respeito. Não encontrava familiaridade mais com ela. Sentiu-se assim outras vezes, todas as vezes que partira. Porém, quando voltava, reconhecia sua história nas coisas, nas pessoas e logo a casa era tomada como espaço seu, depois tomaria como sua aquela rua, algum bar, determinada livraria, alguma banca de jornal, um restaurante, quem sabe? Desta vez permaneceu estrangeiro. E sabia que em nenhum outro lugar encontraria abrigo.

Um comentário:

Ana disse...

Bianca, os textos estão muito bonitos! Vou passar por aqui de vez em quando. Parabéns! Um beijo da Ana.