O café amargo fez Otávio esquecer o caderno no canto da mesa. Em compensação fez lembrar Ana. Ela fazia o pior café que já tinha tomado na vida. Lembra dela levantando animada da cama. O cheiro do pó dissolvendo na água fervendo era agradável e o fazia sentir-se como numa fazenda, no interior do estado. Na verdade, nunca havia estado numa fazenda no interior, nem sabia que cheiro tinha o pó de café de lá. Mas também nunca tinha passado a noite com Ana. Toda sensação era nova. Ela colocou as duas xícaras sobre a mesa. Uma delas tinha uma pintura de Picasso ou Escher, não se lembra bem. A outra tinha a asa quebrada. Otávio, ainda deitado na cama, tentava apreender as sensações todas. O apartamento era pequeno. A cama num canto, a mesa noutro, dava pra ver o dia pela grande janela. Já era dia. Ana o chama para tomarem o café. Otávio tenta disfarçar o amargo que desce pela garganta. Ela sorri e também disfarça, todos sabemos que ela não é grande coisa na cozinha. Nem mesmo para fazer um simples café.
Otávio volta de seus pensamentos, concentra-se novamente. Não seria má ideia andar pela rua. Domingo é dia calmo e solitário, isso pode ser bom.
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