terça-feira, julho 14, 2009

Frio

A janela se debate, reclama dos golpes que o vento lhe acerta. Chacoalha, treme, grita. Já pensei tantas vezes em colocar um calço. Problema é que adormeço e, quando acordo, já não me lembro do barulho. Só me darei conta dele novamente na próxima noite, quando estarei com o cobertor enrolado no corpo, prestes a esquecer mais um dia. Na posição para dormir, não me atrevo a levantar novamente. Depois, não vou conseguir vedar todas as frestas entre o colchão, o cobertor e meu corpo. Problema é se habituar ao frio. Adormeço, ora ou outra, ouvindo o escândalo da janela ou não. A casa não vai cair, fico afirmando o tempo todo, é só a janela que se debate. Meu pensamento faz-se mais alto do que a veneziana enferrujada. Meu pensamento faz muito barulho. Penso por longo tempo antes de dormir. Não é caso de insônia. É um ritual, penso, penso, penso. Depois adormeço. Por isso nem sempre estou atento ao barulho da janela, por isso consigo dormir. Problema é lembrar as decisões tomadas naquele momento. Muitas coisas são decididas antes do sono. A maioria delas serve apenas como consolo, para ter certeza de que a vida vale qualquer coisa a mais do que de fato vale. Só para ter o sono dos justos, dos bons. Não se trata de uma mentira. O fato é que adormeço e, no dia seguinte, não há barulho na janela, nem nada além do que isto mesmo que vejo ao abrir os olhos. Nenhuma decisão de fato. Nada me convence. Problema é a dor no corpo, contorcido, comprimido, sem barulho, só frio.

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