Augusto passava o café enquanto a mulher praguejava contra “um bendito passarinho que canta todo dia às sete horas em ponto!” Não sabe que é domingo? Não a deixa em paz. Queria dormir e não ver a manhã de domingo. Não queria ver o sol raiar sobre o chão da sala. Não queria ter de recobrar a consciência no domingo pela manhã. Ligava para a mãe. A mãe levaria um remédio para a dor de cabeça da filha. O silêncio de Augusto fazia-a ouvir o canto do pássaro como o apito incansável de uma fábrica. Alice e o pai resolveram não falar nada sobre as plantas. Elas atrairiam mais pássaros, não era o momento ideal para presenteá-los. Segunda-feira, antes do almoço, as plantas já estariam espalhadas pela sala, banheiro, hall da casa de Alice... “Deu cor à casa!” É o que dirá Cecília à amiga. Leve perfume de terra viva. Isso faria Cecília lembrar-se da casa da mãe, no interior, da partida do pai. Pensaria em Augusto, logo em seguida. Torceria para ouvir cantar o mesmo pássaro, aquele de um outro domingo, há três anos, feriado de sete de setembro. Cecília remontaria as peças da memória. Augusto ao seu lado, escondido. Um beijo sincero de amor guardado. Para Cecília e Augusto, aquele pássaro cantava ao piano, vestido de fraque, na copa de algum flamboaiã. Embalava uma sensação de infinito, de esperança, de alguma aventura no tempo.
segunda-feira, julho 27, 2009
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